segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cabelos e barbas...

Gostaria de partilhar uma análise que este fim-de-semana saiu no Expresso, Massa Crítica, escrita pelo seu autor Luis Marques, pela sua sagacidade e sentido crítico único sobre a postura de quem na justiça deveria ter um papel ponderante e responsável para com os comuns dos mortais:

" Há umas semanas atrás, o procurador -geral da República afirmou estar farto "até aos cabelos" do caso Freeport. Como já ninguém se importa com nada, a coisa passou. A verdade é que, talvez por respeito aos cabelos de Pinto Moreira, o caso Freeport tem andado desaparecido. Não se sabe se isso acontece por boas ou más razões.

É curioso que o procurador esteja "farto" deste caso, sobre o qual, aliás, a Procuradoria consegue ser quase tão rápida a fazer desmentidos como os jornais a publicar notícias. Aparentemente, muitos outros processos, igualmente importantes e graves, não têm igual influência no problema capilar de Pinto Monteiro.

É provável que os portugueses, pelo menos alguns, estejam convencidos que o papel do procurador não é ficar "farto" dos processos, mas tratar deles. De preferência em silêncio. Era suposto até que, ao fazê-lo, Pinto Monteiro nos ajudasse a ficar menos "fartos até à raiz dos cabelos" da justiça que temos. Na realidade, se alguém pode e deve estar "farto" são os portugueses, não o procurador.

Os portugueses estão fartos que a investigação criminal tenha uma estranha sensibilidade para a gestão política das iniciativas que toma. Como agora, uma vez mais ficou provado, no caso dos submarinos, com buscas efectuadas estrategicamente um dia depois das eleições legislativas e não antes. Como já tinha acontecido nos casos Freeport e "Cova da Beira".

Estão fartos que um processo tão grave como a chamada "Operação Furacão" , que envolve algumas das maiores empresas portuguesas, continue a arrastar-se interminavelmente, sem fim à vista, ultrapassando todos os prazos que o próprio Ministério Público tinha fixado como razoáveis.

Estão fartos que alguns processos fiquem esquecidos nas gavetas, sabe-se lá de quem, como é, por exemplo, o processo de investigação, à Câmara de Amadora, onde, ao que parece, terão ocorridos factos extraordinários, como a não constituição de arguidos pedida pela Polícia Judiciária.

É de tudo isto, e muito mais, que Pinto Monteiro devia estar farto. Tão farto como estão os portugueses. Só que os portugueses nada podem fazer, a não ser assistir impotentes a este espectáculo de uma justiça incapaz, dotada de dois pesos e duas medidas, reverente perante o poder mas implacável com os humildes.

O procurador está preocupado com os seus cabelos. Na realidade o que devia é estar preocupado com as barbas deste velho país de 800 anos. Estão a começar a arder e alguém as devia pôr de molho"

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