sexta-feira, 16 de outubro de 2009

No canto de um papel qualquer...

" No canto de um papel qualquer

desenho o nu despido de pudor

na timidez de um sonho descoberto

privo da tua ausência

inquieta pelo frio de uma janela que fica aberta.



Na sombra destas linhas

Não consigo esquecer esta tristeza

que me segue nos trilhos que compasso

na música da vida.



E pela tua ausência

da qual nem conheces ou tiveste por tua

Choro sem angústia, sem sentimento

e seco estas lágrimas ausentes de dor



Neste canto só meu, triângulo em branco

numa inquietude sem linhas travessas

Escrevo páginas em branco

Em espaços cheios de nada."



Joana C - No canto de um papel qualquer
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cabelos e barbas...

Gostaria de partilhar uma análise que este fim-de-semana saiu no Expresso, Massa Crítica, escrita pelo seu autor Luis Marques, pela sua sagacidade e sentido crítico único sobre a postura de quem na justiça deveria ter um papel ponderante e responsável para com os comuns dos mortais:

" Há umas semanas atrás, o procurador -geral da República afirmou estar farto "até aos cabelos" do caso Freeport. Como já ninguém se importa com nada, a coisa passou. A verdade é que, talvez por respeito aos cabelos de Pinto Moreira, o caso Freeport tem andado desaparecido. Não se sabe se isso acontece por boas ou más razões.

É curioso que o procurador esteja "farto" deste caso, sobre o qual, aliás, a Procuradoria consegue ser quase tão rápida a fazer desmentidos como os jornais a publicar notícias. Aparentemente, muitos outros processos, igualmente importantes e graves, não têm igual influência no problema capilar de Pinto Monteiro.

É provável que os portugueses, pelo menos alguns, estejam convencidos que o papel do procurador não é ficar "farto" dos processos, mas tratar deles. De preferência em silêncio. Era suposto até que, ao fazê-lo, Pinto Monteiro nos ajudasse a ficar menos "fartos até à raiz dos cabelos" da justiça que temos. Na realidade, se alguém pode e deve estar "farto" são os portugueses, não o procurador.

Os portugueses estão fartos que a investigação criminal tenha uma estranha sensibilidade para a gestão política das iniciativas que toma. Como agora, uma vez mais ficou provado, no caso dos submarinos, com buscas efectuadas estrategicamente um dia depois das eleições legislativas e não antes. Como já tinha acontecido nos casos Freeport e "Cova da Beira".

Estão fartos que um processo tão grave como a chamada "Operação Furacão" , que envolve algumas das maiores empresas portuguesas, continue a arrastar-se interminavelmente, sem fim à vista, ultrapassando todos os prazos que o próprio Ministério Público tinha fixado como razoáveis.

Estão fartos que alguns processos fiquem esquecidos nas gavetas, sabe-se lá de quem, como é, por exemplo, o processo de investigação, à Câmara de Amadora, onde, ao que parece, terão ocorridos factos extraordinários, como a não constituição de arguidos pedida pela Polícia Judiciária.

É de tudo isto, e muito mais, que Pinto Monteiro devia estar farto. Tão farto como estão os portugueses. Só que os portugueses nada podem fazer, a não ser assistir impotentes a este espectáculo de uma justiça incapaz, dotada de dois pesos e duas medidas, reverente perante o poder mas implacável com os humildes.

O procurador está preocupado com os seus cabelos. Na realidade o que devia é estar preocupado com as barbas deste velho país de 800 anos. Estão a começar a arder e alguém as devia pôr de molho"

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Nem sempre entendo...

Confesso que ás vezes fico muito, mas muito confusa. E me questiono porquê.

Penso que será pela minha maneira de ser, da forma que vejo o mundo e do eterno exercício que faço, não para ser mais um na fila da vida, mas pelo menos poder escolher o meu caminho.

Não consigo me imaginar a entrar numa luta sobrehumana de lutar contra tudos e contra todos, mas no benefício de todos, haver um espaço em que encaixe na engrenagem.

Alguns esperam que entendamos as coisas por meias palavras, outros no silêncio como se o exercício de telepatia fosse real, outros fazem tanto ruído que ainda ficamos pior.

E fico um tanto ou quanto na corda bamba quando percebo que não deixamos de ter a nossa natureza animal bem mais vincada, apenas disfarçada pelos neurónios que circulam no nosso cérebro.

Definitivamente não tenho natureza de predadora, mas muitas vezes não consigo deixar-me de sentir como bicho para ser alimento de outros. Lobos com peles de carneiro, vestidos com as suas melhores vestes de inteligência, vaidade, de uma compreensão disfarçada e momentânea.

Não estou a apontar o dedo a ninguém, nem a colocar-me no papel de vítima. Pois tenho consciência de que quando isso acontece me deixo ir, se mais não for para ver até onde vai a capacidade humana e medir os meus próprios limites.

O que quero dizer é que não consigo usar de subterfúgios e é confrontando esta minha maneira de ser despida de intenções ou mentiras que me encontro em frente de personalidades múltiplas, mas que somando as partes o resultado é sempre o mesmo.

Fico desapontada pois não encontro quem me surpreenda.

Bem, mas a esperança é última a morrer e quem sabe haverá ainda alguma surpresa reservada para mim...

Com diz Pedra Abrunhosa " Perdeste comigo, porque o mundo é um momento" e muita gente tenta agarrar-se a momentos que depois o resultado é sempre o mesmo... um imenso vazio porque faltou algo mais.

E nem sempre entendo porque continuam as pessoas a enganarem-se a si próprias.

Alguém me sabe responder?