domingo, 5 de agosto de 2007

É Domingo...

Um dia de descanso por excelência, o dia em que se encontra com Deus, com a família, na boa tradição portuguesa.

Para mim é o dia de paragem, descanso total, em que tento desfrutar do sossego da minha casa ou vou até casa dos meus pais.

Mas hoje reveste-se de um dia mais especial. O meu avô Manuel se estivesse entre nós faria 102 anos.

Poderia ser mais uma pessoa do mundo, mas para mim e para toda a familia, filhos, noras e netos foi uma pessoa que marcou toda a gente.

Não tenho muitas lembranças do país onde nasci, Alemanha, apenas neve, a escola que cheguei a frequentar, algumas travessuras, o resto é retirado de comentários a fotos da altura.

Chego a Portugal em 1974, com oito anos e com duas irmãs mais novas, com nossa mãe, o pai ainda fica lá mais um ano.

Se lá havia uma certa fartura, não faltava nada, aqui a história passa a ser outra e bem diferente.

Apesar das dificuldades e o facto de eu nunca ter gostado de estar na Alemanha, partia sempre a chorar pela ausência da minha avó Joana, avô Manuel, as tias, os tios e os primos, pois adorava o cantinho da minha aldeia, a minha casa. Partia do sol, do calor, do espaço, liberdade, para o frio, um apartamento e um certo isolamento, pois afinal estavamos num país estrangeiro.

E essas dificuldades, a falta de dinheiro, foram sempre acompanhadas pela presença do meu avô que se tornou a pedra basiliar da minha infância, adolescência e juventude, que nos fez sentir que existiam coisas bem mais importantes que o dinheiro.

Lembro os mimos, estar sempre presente para me ouvir, zangada ou feliz, me ensinar a gostar de coisas simples, ir para o campo com ele e tirar as maçãs da macieira, as cenouras da terra, as cerejas e saborear estas coisas boas numa delícia de pura simplicidade.

Ser o mediador nos conflitos com minha mãe, pois estes ás vezes tornavam-se bem feios.

E então havia qualquer coisa, intemporal nele que nos fazia a todos ficarmos dependentes desse equilibrio, sabedoria.

Era uma pessoa que com idade era um sábio da vida, conseguia ser velho e actual e muito mais para a "frentex" que os próprios filhos, noras e genro.

Quando decidiu abandonar os campos com 80 anos, fazia a sua visita quase diária ao café e as outras pessoas admiravam-no e ouviam-no com um respeito que me fazia absorver os ensinamentos e experiências que ele transmitia.

Era visita obrigatória, no fim de jantar descer do primeiro andar da casa até ao rés-do chão para estarmos com ele, deitado na sua cama com a gata, preta e branca, aos pés, e ouvia-nos a contar as histórias do dia.

Então os Natais, eram dias de pura felicidade e alegria, não pelos presentes, mas porque todos faziam questão de se reunir à mesa de consoada do avô. Não precisava fazer a festa ou ser o mestre de cerimónias, para isso estavamos lá nós, mas era este elo de unidade, de sentimento de família que nos fazia sentir parte de algo muito especial. Muita algazarra, música, cantares, sueca á mistura, jogo do pinhão....simplesmente uma delícia.

Até hoje, foi a única pessoa que partiu que ainda hoje choro a sua ausência...e sinto que em alguns momentos da minha vida ele está presente, esteja onde estiver, me vai dando a mão e forças para continuar a seguir em frente.

Foi exemplo como marido, como pai e como avó foi duplamente excepcional...

Por isso, meu lindo avô, neste dia te mando um beijo com muito amor e carinho....

Da tua bonequinha...

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