sábado, 7 de julho de 2007

Do livro de "Este mundo sem abrigo" de Jorge Gomes Miranda

«Poema de Amor»

"-Fecha a porta, se não te importas
de viver o que resta ainda de um dia
vacilante e cruel junto do meu corpo.

-Ela está fechada, há muito tempo
a passos indecisos, vozes maldizentes
dos que advogam a tua perdição.


-Então, de onde vem a corrente de ar
que sinto sempre que olho lá para fora,
abro um livro na quietude letal da tarde?

-Da tua imaginação.

-Não te apoquentes com a desordem
aparente dos meus gestos, a ansiedade
com que confiro o resultado das análises.

-Sossega, corre uma brisa na penumbra,
o frigorífico está cheio, e não há contas para saldar.

-Em fuga vamos por palavras que protegem
para no instante seguinte traírem, quem saberá?

-Amei-te pela frontalidade com que dizias
o que eu não estava á espera de dizer."


Deslumbrante....

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